segunda-feira, 28 de julho de 2008

Entrevista com Tiago Santiago

Carioca de 45 anos, Tiago Santiago é o autor de telenovelas de grande sucesso, como “Caminhos do Coração” e “Os Mutantes”, ambas da “Rede Record”. Com mais de três décadas de teledramaturgia, Santiago começou como ator de teatro e estreou na televisão em 1982, nos programas “Caso Verdade” e “Quarta Nobre”, da “Rede Globo”. A primeira experiência como autor foi com a peça “A Fonte da Eterna Juventude”, no Rio de Janeiro. Na “Record”, escreveu a nova versão de “A Escrava Isaura”, a novela “Prova de Amor”, e foi supervisor de “Bicho do Mato”.

Para Santiago – que também é autor do romance “Francisco”, transformado em peça teatral, e do roteiro para cinema premiado pelo Ministério da Cultura, o ainda inédito “Aventuras de Caramuru” – o gênero telenovela está longe de se tornar desgastado.

1 – Você esperava que as telenovelas “Caminhos do Coração” e “Os Mutantes” fossem ter tanto sucesso?
Mitos e lendas, com criaturas superpoderosas, fazem parte da fantasia de todos os povos e várias telenovelas de realismo fantástico foram bem-sucedidas. Por isso, tinha certeza que “Caminhos do Coração” faria sucesso. Mas a estréia de “Os Mutantes” em novo horário superou as minhas expectativas. Agora acredito que temos chance de disputar o primeiro lugar de audiência.

2 – É verdade que, sabendo dessa possibilidade, você criou uma personagem para ir ao ar quando “Os Mutantes” alcançar a liderança no Ibope?
É uma brincadeira, mas, se atingirmos a liderança, colocaremos a Mulher Zebra no ar. Ela ainda não está escrita, mas imagino que a briga no Ibope vai se intensificar e que a “Record” pode ser a primeira emissora do País em audiência. Nosso crescimento e a queda da concorrente provam que fazemos um trabalho superior. No entanto, precisamos aumentar o número de produções.
3 – “Caminhos do Coração” é mesmo vista só por crianças de menos de 10 anos e pelas classes D e E, como algumas críticas mencionaram?
Há uma pesquisa que mostra que somos vistos por todas as classes sociais, com grande concentração na classe C. As classes A e B assistem tanto quanto as D e E.

4 – Mesmo com a concorrência, houve troca de elogios no ar entre você e Aguinaldo Silva, autor de “Duas Caras” (“Globo”). Como foi isso?
Escrevi uma minissérie e um especial na “Globo” com o Aguinaldo, nunca exibidos. Ficou uma relação de carinho, admiração e respeito. Fiquei surpreso quando ele colocou em “Duas Caras” uma referência aos mutantes em homenagem ao sucesso da minha novela. Respondi, em “Os Mutantes”, que o
Pachola (André Mattos) “mora em Paraisópolis, mas tem saudades da Portelinha”.
5 – O formato adotado pelas telenovelas brasileiras está desgastado?
A telenovela não demonstra sinal de desgaste. Ao contrário, o número de novelas no ar cresce a cada ano e a tendência é que outras emissoras invistam em teledramaturgia. As vendas de novelas mundo afora são um modo de exportar nossa cultura.
6 – Existe uma nova geração de autores de novelas no Brasil?
É natural que um produto que é a paixão de milhões de pessoas e que é um mercado bem remunerado atraia muita gente. A maior prova de que há novas pessoas escrevendo novelas é que, atualmente, há a concorrência no horário nobre, entre um autor de 38 anos e outro de 45, o João Emanuel Carneiro (autor de “A Favorita”, da “Globo”) e eu. Depois de nós, com certeza virão outros.
7 – Você foi um dos idealizadores do concurso de novos autores da
“Record”. O projeto ainda existe? Pretendem realizar oficinas de autores?
Nós temos a intenção de promover, ainda este ano, o primeiro seminário de novos autores da “Record”, para o qual devemos contar com 70 autores que ganharam menção honrosa no primeiro concurso e outros convidados, para fomentar a criação de projetos para a emissora.

8 – Como foi o desentendimento entre você e Lauro César Muniz?
Desde 2004, sou consultor de novelas da “Record”, com a função de analisar o que deverá ser produzido pelo núcleo de teledramaturgia e incentivar a vinda de autores para a emissora. Nessa função, intermediei a vinda de, entre outros, Lauro César Muniz, que fez a novela “Cidadão Brasileiro” (exibida em 2006). Quando a novela “Vendetta” foi apresentada, eu tinha a obrigação de dar um parecer. Parte da imprensa tentou jogar um contra o outro, mas eu estava só prestando meu serviço, visando fatores que possam levar a novela a ser um grande sucesso.

9 – Como foi a entrada na “Record”, no momento em que a emissora começava a apostar em novelas?
Em 2004, Herval Rossano, com quem trabalhei no “Você Decide”, me convidou para ir para a “Record”. Tinha oferta para continuar por mais quatro anos na concorrente, mas sem a garantia de me tornar autor titular. E vislumbrei a possibilidade de fazer sucesso com “Escrava Isaura”. Foi sorte que a “Globo” não tenha feito esse remake, pois inviabilizaria o projeto que deu partida ao bem-sucedido núcleo de teledramaturgia da “Record”.

10 – Em algum momento você se sentiu desvalorizado na “Globo”?
Comecei a trabalhar na “Globo” em 1982 como ator (na novela “Livre Para Voar”) e, em 1990, como autor. Foram 14 anos em que fui coordenador do “Você Decide”, implantei o programa “Linha Direta” e colaborei em “Vamp” e “Uga Uga”. Achava que merecia ser autor titular, mas essa chance não me foi dada. Foi com esse objetivo que eu vim para a “Record”.

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