Tuca Andrada é incansável. Tanto que abraçou com disposição a continuidade da novela "Caminhos do Coração", de Tiago Santiago. Há quase um ano no ar como o impiedoso Eric, o ator não se mostra cansado. Pelo contrário. Ele diz até se divertir na pele do frio exterminador de mutantes. "O Tiago me deixa brincar muito com o personagem. E isso facilita bastante", confessa ele, que coleciona uma série de malvados no currículo. Apesar de estar acostumado a viver facínoras, interpretar o criador da Liga Bandida de "Os Mutantes" está tendo um gostinho especial para Tuca. "É um vilão de quadrinhos, tem chanchada nele. Não é um personagem sério, o que me deixa bem livre para criar", argumenta.
Liberdade para criar, por sinal, é o que Tuca mais admira na trama de Tiago Santiago. Afinal, segundo ele, esse tipo de autonomia é muito próxima da que existe na linguagem teatral, com a qual está para lá de acostumado a lidar. "Não é à toa que a novela virou mania nacional. Mutante agora é apelido de qualquer pessoa estranha", elogia, entre risos. Mesmo ciente de que a novela anda causando estranhamento por conta das extravagantes criações de Tiago Santiago, Tuca defende a audácia do autor. "Acho uma atitude muito corajosa do Tiago e da Record. E a televisão brasileira está precisando de ousadia", defende.
Ousadia tem tudo a ver com a trajetória profissional de Tuca. Nascido em Recife, o ator, que hoje está com 43 anos, começou a fazer teatro amador em sua cidade natal no início da década de 80. Desde então, se encantou pela interpretação e não saiu mais dos palcos. Tanto que hoje já coleciona 14 novelas, mais de 30 peças e 10 filmes no currículo. O primeiro papel de destaque do ator na TV, coincidentemente, também foi um vilão: o Ladislau, de "O Dono do Mundo", trama de Gilberto Braga exibida em 1991 na Globo. "Gosto de fazer o vilão porque posso colocar todas as maldades que tenho guardadas para fora. E acho que o público também gosta porque ele também se vê ali. É algo catártico", filosofa.
Autocrítica
Ainda que seja tarimbado na TV, o ator faz questão de frisar que, mesmo depois de quase 18 anos de carreira, continua muito crítico consigo mesmo. "Só gosto de me ver depois de muito tempo", revela. Mas, apesar de se manter distante dos aparelhos de televisão toda vez que está em algum folhetim, Tuca tem consciência da importância de se assistir. Mesmo depois de a trama sair do ar. "Quando assisto à novela depois, tenho a medida certa", acredita.
É por conta de tamanha severidade consigo mesmo que ele se vê à vontade para criticar o trabalho dos atores que estão começando agora nos palcos e na tevê. "Estamos com uma safra de atores muito boa. O Bruno Gagliasso, por exemplo, é um ótimo ator. Não é só um rosto bonito", exemplifica. Ao mesmo tempo, o ator acredita que existem muitos atores ruins, que só escolhem o caminho artístico porque acham que vão aparecer em revistas e jornais ou enriquecer facilmente. "Tem muita gente sem talento. Mas cada um se propõe a fazer o que quer", critica.
Apesar de não ter tempo para planejar quase nada - por conta do ritmo intenso de gravações de "Os Mutantes" - Tuca já sabe o que vai fazer quando a trama de Tiago Santiago acabar. Além de viajar com a peça "O Processo", de Kafka, pelo Brasil, ele planeja montar um show de músicas variadas. "Mas isso ainda não está formatado na minha cabeça. Então, não gosto de falar", despista. Enquanto a novela não termina, porém, ele aproveita para se dedicar ao seu atrapalhado vilão. "O Eric é um vilão muito divertido: às vezes é completamente mau e outras vezes um bobão", conclui, às gargalhadas.
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