Neste caso, os intérpretes recorrem a maquiagens especiais utilizadas em cinema para apagar seus rabiscos. Em contrapartida, alguns personagens exigem caracterizações através de tatuagens, o que também implica num longo trabalho de desenhos quase que diários para manter a verossimilhança do papel.
Há ainda casos inusitados. Daniela Récco, que interpreta a descolada Duda em Três Irmãs, na Globo, foi justamente escolhida pelo diretor Dennis Carvalho por suas curiosas tatuagens nos braços: uma fileira de ursinhos de mãos dadas e flores de estilo rococó que escorrem por grande parte de seu braço esquerdo. "Ele me viu e disse: 'você é a cara de uma personagem do meu próximo trabalho. Já tem as tattoos!'", lembra, com um largo sorriso.
No entanto, normalmente os atores costumam ter de esconder suas tatuagens para personagens de profissões mais convencionais. Babi Xavier, por exemplo, quando interpretou a advogada Patrícia em Vidas Opostas, passava por um longo processo de maquiagem com bases e "pancakes" da marca Kryolan, especializada em cosméticos para efeitos especiais.
"Tem produtos que escondem a tatuagem por até quatro dias. Mas dá muito trabalho para a equipe de finalização das cenas. É necessário retocar, a cada 'frame', ou seja a cada movimento da cena, para retirar os vestígios das marcas por computação gráfica", explica a atriz, que ostenta um grande B no braço esquerdo, além de outros dois desenhos. "Gostaria de um dia fazer uma personagem que tivesse B na letra inicial, como Bianca ou Beatriz, para poder mostrar minha tatuagem", torce a atriz.
Já Letícia Persiles, que viveu a personagem-título da minissérie Capitu, nem precisou esconder seu excêntrico desenho de bromélia com um pássaro que desce por todo o braço. Mesmo numa personagem de época da obra de Machado de Assis, o diretor Luiz Fernando Carvalho acreditou que o desenho poderia ser incorporado ao universo lúdico do papel. "Ele disse que essa bromélia era a continuação dos jardins da Capitu", derrete-se Letícia.
Outros recursos também são bastante utilizados, como adaptar o figurino do personagem às tatuagens do ator. Mel Lisboa, quando interpretou a ambiciosa Carla em Sete Pecados, destoava muito de sua estréia na TV como a quase desnuda Anita de Presença de Anita. Mel teve de passar toda a novela com blusas de manga longa e jaquetas para ocultar seus rabiscos. "Um dia, talvez as tatuagens possam atrapalhar de verdade", pondera a atriz.
Enquanto uns camuflam, outros atores passam por longas sessões para ostentar desenhos que caracterizam seus papéis. Marcos Pitombo, que vive o Valente em Os Mutantes, passa por sessões de hena algumas vezes por semana para manter a fênix do personagem tatuada perto da virilha.
Daniel Boaventura, no entanto, teve uma experiência desagradável ao interpretar o Mariano em Malhação.
Como tinha de sempre retocar a tatuagem de hena do personagem, que era um dragão exposto no peito, acabou tendo sérias reações alérgicas. "Ficava cheio de brotoejas, mas a tatuagem me ajudava a encontrar o personagem, ele abria a camisa, mostrava o peito e dava uma coçadinha no tórax. Era pura malandragem", diverte-se o ator, que diariamente ficava à disposição do tatuador por uma hora, antes das gravações.
Algumas técnicas causam menos impactos dermatológicos. Para vive a personagem Aline no especial homônimo na Globo, Maria Flor teve de ostentar no braço um enorme coração cravado de flechas e um gato preto no dorso do pé. Para os desenhos, foram utilizados decalques, que era reaplicados a cada dois dias. "Ficou muito mais prático. Era bem rápido e indolor. Bem melhor que hena. E era fundamental para compor o jeito descolado da personagem", ressalta a atriz.




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