sábado, 7 de fevereiro de 2009

Entrevista com Preta Gil


A cantora diz que não estava preparada para ser filha de ministro, que as lipoaspirações que fez foram equívocos e afirma que ter tido uma experiência homossexual não a rotula de nada

No berço da liberdade, eu nasci. Amar sem preconceito, eu aprendi. Viver intensamente, experimentar os vários sabores da vida, eu fiz. Exemplo não sou para ninguém, simplesmente sou o que sou.” Esses versos, da canção “Sou o que sou”, parecem definir sua autora, a cantora Preta Gil. A música estará no DVD Noite Preta, que ela grava em fevereiro, com vários convidados, dentre eles o pai, Gilberto Gil. Aos 34 anos, ela se diz experimentando um recomeço, em que se encontra totalmente “focada”. “Essencialmente, sou uma cantora. Todo o foco daqui para a frente será em cima disso”, diz. E Preta promete aprontar bastante neste ano. Durante o verão, ela se apresentará, às quintas-feiras, na boate The Week, no Rio de Janeiro, onde também serão realizados os ensaios do bloco de carnaval que a inquieta artista lança neste ano, chamado A Coisa Tá Preta. “Sempre gostei de brincar com meu nome. Agora, claro. Porque, quando era pequena, tinha vergonha de me chamar assim. Queria ser Priscila.”


Fora o trabalho, Preta divide-se entre os cuidados com o filho, Francisco, de 14 anos – de sua união com o ator Otávio Müller –, e o namorado, o mergulhador Carlos Henrique Lima, de 32 anos. Preta recebeu QUEM em seu apartamento em São Conrado, na Zona Sul do Rio.

QUEM: Você pretende se voltar mais para a música neste ano?
PRETA GIL
: Estou em um momento de recomeço. Vi o que deu certo e o que não deu e, principalmente, estou com sensação de maturidade. Farei 35 anos em 2009 e sinto, pela primeira vez, a palavra maturidade ter sentido. Profissionalmente, estou centrada, focada. Arregacei as mangas.

QUEM: O que deu certo?
PG
: Consegui ter um nome, não sou mais a filha do Gilberto Gil. Claro que sempre serei e tenho o maior orgulho disso, mas acho que o nome Preta Gil ficou muito forte. E eu não gostava de ter esse nome. Tinha vergonha e queria me chamar Priscila. Hoje, sei que meu nome tem um representativo muito forte dentro do que é ser brasileiro.

QUEM: E o que deu errado?
PG
: Essencialmente, sou uma cantora. Atirei para muitos lados. Com isso, a primeira pessoa a se confundir sou eu, e depois, automaticamente, confundo o público. Comecei a cantar tarde. Então, entrei na vida artística com muita ansiedade e uma imaturidade muito grande, que fez com que eu tomasse certas atitudes que me atrapalharam – e atrapalharam demais o meu percurso.

QUEM: Por exemplo...
PG
: As tais fotos nua, que fiz para a capa do primeiro CD.

QUEM: Arrepende-se de ter feito?
PG
: Sim, porque eu desconhecia uma parte da imprensa atual, que não é de música, que não julgou o meu trabalho artístico, mas o fato de eu ter posado nua, se estava bonito ou feio, se eu podia ou não fazer por não ser magra.

QUEM: O que a levou a fazer as fotos?
PG
: Fiz ingenuamente, num romantismo artístico profundo. Fruto do que sou, do tropicalismo, desse berço magnífico que são o meu pai e todos os seus colegas. Achei tão bacana, tão leve posar nua para a capa do disco, e fui mal interpretada.

QUEM: Em nenhum momento pensou que isso pudesse acontecer?
PG
: Não. Costumo dizer que isso foi um choque de caretice. Diante de tudo que vi a geração de meu pai fazer, da luta deles... achei um retrocesso. Na época, outro fator deu ainda mais peso a tudo: meu pai estava no início do mandato como ministro da cultura, então, foi um prato cheio para o sensacionalismo e para me colocarem dentro de um saco ao qual não pertenço. Sou espontânea, transparente, mas ser polêmica ou querer, com minhas atitudes, conquistar algo, não é da minha personalidade. Também não estava preparada para ser filha de ministro, porque a vida inteira fui filha de um cantor, de um ídolo. Com o que, da mesma forma, não foi fácil de lidar, em determinadas épocas.

QUEM: Por quê?
PG
: Tive todas as minhas questões e tive que fazer todas as minhas terapias por causa disso. Inclusive meu pai ser quem é foi um dos grandes motivos pelo qual não me aceitei artista logo de cara. Sentia medo, insegurança. Passei um tempo longe da minha essência, até perceber que ali tinha questões a ser resolvidas. A principal de todas foi me aceitar como sou, me conhecer como mulher e como artista. Primeiro, tive que me aceitar para depois aceitar ser filha de um ídolo e saber que eu também poderia ter a minha história independente da história dele.

Não estava preparada para ser filha de ministro, porque a vida inteira fui filha de um cantor, de um ídolo. Com o que, da mesma forma, não foi fácil de lidar em determinadas épocas.

QUEM: Na mesma época do lançamento do CD com a foto nua, você deu declarações polêmicas em entrevistas.
PG
: Ter, em alguns momentos da minha vida, aberto o meu coração e ter falado honestamente com o meu público e com a imprensa e revelado coisas da minha vida íntima não significa ser polêmica. Acho que a grande babaquice é o rótulo. Contar que no passado tive uma experiência homossexual não me rotula de nada.

QUEM: Essa declaração a prejudicou?
PG
: Sim, porque aí fez-se a bomba atômica, juntando-se as fotos do disco, essa entrevista e meu pai ministro. Ninguém olhou o disco. Parou-se para perguntar quem era essa tsunami chegando. Dei essa entrevista despreparada. Jamais falaria de novo da minha intimidade daquela forma. Não acho pertinente, não acho oportuno, não acho conveniente, tampouco relevante. Ao mesmo tempo, falei, então tinha duas opções: colocar a viola no saco ou enfrentar o mundo. Resolvi enfrentar e assumir que falei mesmo: “E daí?”

QUEM: Você teve apenas uma experiência homossexual?
PG
: Uma experiência.

QUEM: Você se define como uma mulher heterossexual?
PG
: Eu me defino como a Preta Gil (risos). Volto a falar: rotular é burro, só te faz perder todas as nuances e a genialidade de ser você mesmo. Se me perguntarem se sou bi, vou brincar e responder que sou penta. Por que vou me prender a duas coisas se o mundo é tão maior do que isso? Acho isso muito careta e não fui criada assim. Fui criada por pessoas que viveram e sofreram com a ditadura, que lutaram pela liberdade de expressão. Liberdade de expressão essa que hoje eu tenho, e aí tenho que me privar dela. Isso é muito contraditório.

QUEM: Você bebe, fuma, usa drogas?
PG
: Sou megacareta. Não bebo, nunca cheirei e fumei maconha uma vez, com 29 anos. Não suportei. Liberdade é poder se drogar? Drogas para mim significam bitolação. Não julgo quem gosta, mas não é a minha.

QUEM: Ao mesmo tempo em que a franqueza a prejudicou, você ganhou popularidade.
PG
: As mulheres de verdade olham para o meio artístico e não conseguem se enxergar. Porque, na maioria das vezes, elas não são magérrimas, não têm o cabelo e a pele mais lindos do mundo – enfim, sou como todas elas. Tenho meus problemas, vivi anos de guerra com a balança e, quando dizem que sou uma “gordinha bem resolvida”, respondo que não sou, não.

QUEM: Você já fez lipo, dietas e, ao mesmo tempo, diz que se aceita. Não é paradoxal?
PG
: Para eu me descobrir e chegar neste estágio em que sou feliz e que me amam do jeito que sou, passei por tudo isso. Hoje, vivo a plenitude de quem já deu com a cabeça na parede. Considero as três lipos que fiz grandes equívocos.

QUEM: Por quê?
PG
: Acho que foram mutilações de mim mesma, fruto dessa sociedade de consumo que te cobra a magreza o tempo todo, praticamente sem falar no que eu busco hoje, que é a saúde. Parei de comer carne vermelha há um ano e evito açúcar ao máximo. Mudei hábitos que acabaram mudando várias coisas em mim. Não o peso, mas o meu colesterol melhorou, a minha vitalidade melhorou, a pele também.

QUEM: Você está satisfeita com você?
PG
: Hoje estou me sentindo meio gordinha e estou correndo atrás de emagrecer uns 3 quilos. Estou com 74 quilos e quero ficar com 71 para gravar meu DVD com a perna mais bonita e encurtar mais ainda o vestido (risos).

QUEM: Como vai o namoro?
PG
: Maravilhoso. Posso dizer que tenho um homem de verdade a meu lado. Com o Cacau, como o chamo, já passei da fase da paixão, é amor mesmo. Ele me ama, me respeita, mas não fica passando a mão na minha cabeça. Quando tem que criticar, critica. Só não falo em casamento para 2009 porque minha irmã mais nova, a Maria, se casará em setembro. Brinco que não posso dar esse prejuízo a meu pai.

QUEM: Pretende ter mais filhos?
PG
: Acho que não. Adotar uma criança vou, com certeza. Agora, pensar em um filho biológico dá uma preguiça (risos)...

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